Gerando relações com experiências

Nosso projeto visa a aplicação técnica e operacional de unidades tecnológicas para a resiliência e sustentabilidade do urbano, incrementando as capacidades sociobiodiversas e a recuperação do solo com o objetivo de estabelecer zonas físicas e virtuais de fertilidade em cenários de risco e escassez de recursos hídricos.

“Qual a relação homem-natureza? Qual o paradigma predominante? Como eram entendidos os processos ecológicos? Quais os modelos usados para “fazer restauração”? Como nosso entendimento dos processos ecológicos pode “afetar” a nossa “percepção” (e prática) da restauração?”(1)

O ser humano constrói sua relação com os ambientes sem a compreensão global do todo ao qual está imerso socialmente. As pessoas têm múltiplas sucessões e trajetórias, a vida social é multidimensional. Os processos biodiversos aos quais estamos imersos estão sujeitos a alterações climáticas extremas principalmente em função de perturbações socioambientais ao longo do desenvolvimento da espécie, que foram intensificados com os recentes(2) processos globais de industrialização e urbanização.

A ação antrópica e seus efeitos preferivelmente tecnológicos devem ser incorporados aos modelos ecológicos para que a restauração realmente seja efetiva. Podemos descobrir tecnologias aderentes à natureza dos plantios em solos degradados e descobrir as tecnologias invisíveis inerentes aos sistemas vivos do planeta que podem ser aderentes às nossas opções e possibilidades
tecnológicas.

Estas ações de recomposição de terrenos degradados pela ação humana poderão ser consideradas como um fator ecológico natural, dependendo do grau de intervenção no processo. Diante disso, queremos experimentar e selecionar 5 opções de distintos métodos de plantio em cenários de seca.

Os autores Maturana & Varela (2001) nos inspiram refletir o potencial do acoplamento estrutural, a “condição de existência” dos sistemas onde os elementos (os seres vivos) ao relacionarem entre si geram uma série de fenômenos repetitivos. O rompimento das redes de vínculos dos elementos essenciais do planeta gerados por consequências da urbanização pode inviabilizar a abundância do fluxo vital do processo terrestre, impossibilitando a continuidade da vida à qual podemos imaginar.

Pretendemos “eco-organizar” o terreno, reorganizar a relação entre as dimensões das pessoas, da sociedade e da biodiversidade do espaço. Para tanto o projeto servirá como núcleo laboratorial e experimental da rede de elos e apoiadores da associação Movimento Sócio-Ambiental Caminho das Águas.

A Porto Rural Lab nasce dentro da Permacultural Office of Resilience To Open-Earth Rural, que é um experimento abundante em práticas permaculturais e entrelaçamento de mundos informacionais para desenvolver bases para protocolos, sistemas, protótipos, políticas e produtos tecnológicos capazes de oferecer condições reais de implementação em iniciativas multicenários de swarm tecnológico pró-ativo em biodiversidade.

 

1Reis, A. . Cenários da restauração ecológica: uma abordagem sistêmica para lidar com a complexidade ambiental. In: Tres, D.R.; Reis, A.. (Org.). Perspectivas sistêmicas para a conservação e restauração ambiental: do pontual ao contexto. 1ed.Itajaí – SC: Herbário Barbosa Rodrigues, 2009, v. 1, p. 61-72.

2. ZALASIEWICZ, J. et al. The geological cycle of plastics and their use as a stratigraphic indicator of the Anthropocene. Anthropocene. 18 jan. 2016.

Escrito por Carlos Diego, Cristiano Andreazza e Luciana Giacomini
Itu, São Paulo
Outubro 2016